O saque do Rio de Janeiro

quarta-feira, 30 de março de 2011

Oi galera,


Estou postando no nosso blog, um texto super interessante que o Prof José Luiz (aquele do Passeio Público) encaminhou pra gente !!!
Aproveitem !!!

Lourdinha

O saque do Rio de Janeiro


Empenhados na difícil missão de sobreviver, cumprindo horário e adiando sonhos, os cariocas jamais param para pensar nisso ou mesmo imaginar, mas aconteceu: um dia, o Rio de Janeiro foi invadido, ocupado e só libertado mediante um pesado resgate.

Era, então, o mês de setembro de 1710, que tinha tudo para se tomar um setembro qualquer, desses que a historia não tem por que lembrar. Mas a cobiça de um certo capitão-de-fragata chamado Duclerc e o ódio oficial do Rei da França, Luís XIV - em represália ao governo de Portugal que assinara um tratado se aliando a Inglaterra, Áustria e Holanda contra a Fraa - mudaram o curso da historia como se muda o curso de um rio.

O Rio de Janeiro era porto de embarque para Portugal do ouro das Minas Gerais e a população de 12 mil almas tinha a fama de serem fazendeiros ricos e ociosos. O capitão Duclerc, com o apoio do rei Luís XIV, entrou na cidade e marchou com ares de general, comandou seus soldados, mas esbarrou numa população aguerrida: estudantes do Colégio da Sociedade de Jesus, do Morro do Castelo, frades do Carmo e do Santo Antonio, escravos, homens brancos e até moradores despreparados mas aguerridos, combateram, atirando sobre os saqueadores garrafas, peças pequenas da mobília, água, azeite fervente, enfim o que tivessem ao alcance das mãos. Resultado: o capitão, de cima de sua estratégia mal planejada e sua pompa, teve de render-se. Passou a viver de prisão em prisão numa "via crucis" de meses até ser assassinado na Rua da Candelária no dia 18 de março de 1711 por homens encapuzados.

O pior, porém, estava por vir, exatamente um ano depois, também no mês de setembro - Duclerc seria vingado. O insucesso da primeira expedão fez da segunda um exemplo de organização: formou-se uma empresa tendo à frente seis (6) armadores franceses ricos de Saint Malo, que destinaram 1.200.000 libras para a empreitada de saquear a colônia do Rio, uma das mais ricas do Brasil.

Portugal foi avisado pela Inglaterra dos preparativos que se faziam na França. A diplomacia portuguesa ainda tentou impedir o saque, pedindo a Inglaterra que enviasse uma esquadra a Brest, mas chegaram tarde demais. Comandada pelo almirante Rene Duguay- Trouin, a frota francesa de 17 navios com 742 bocas de fogo entrou na barra do Rio de Janeiro, se aproveitando do forte nevoeiro. Era a madrugada do dia 12 de setembro de 1711 e o pânico foi total. Desta vez a populão não demonstrou heroísmo, talvez pela fácil constatação da desvantagem em que estava. O efetivo francês montava em 5.396 homens enquanto a guarnição carioca tinha 2.270 praças.

O governador Francisco de Castro Morais prometera defender a cidade até a última gota de sangue, mas , em meio ao fogo infernal dos bombardeios, reuniu o juiz de fora, os oficiais da Câmara, os mestres de campo, os comandantes e em conselho resolveu deliberar a entrega da cidade. Feito isso, fugiu como tantas outras pessoas que aos milhares deixaram o Rio de Janeiro a pilhagem dos franceses. A fuga do governador trouxe-lhe, como conseqüência, a destituição do cargo e a condenação a pena de prisão perpétua, a ser cumprida na Índia. Mas teve uma recompensa histórica: o vencedor Rene Duguay- Trouin, em seu livro de memórias, o classificou como "homem de valor".

Voltando ao saque: foi tudo surpreendente e espantoso. Apropriaram-se do ouro da Casa dos Contos, obras de arte valiosas e objetos particulares. Arquivos foram revirados e queimados. E para tomar a vingança completa, o almirante Rene Duguay- Trouin ainda exigiu um resgate. Além de 100 caixas de açúcar e 200 bois, conseguiu, em dinheiro, algo em como de 610 mil cruzados. O dinheiro foi entregue por padres, mediadores, e segundo alguns historiadores, foi contado, moeda por moeda, na Rua da Quitanda, 89.

Voltando dessa viagem ao século XVIII, e preciso dizer que o Rio de Janeiro, apesar de tudo, se recuperou rapidamente em razão de sua condição de porto intermediário entre Lisboa e as serranias mineiras.

Bibliografia:

Cruls, Gastão. Aparência do Rio de Janeiro. 2 volumes. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1965

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